sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Uma sociedade chamada knackers

A expressão acima trata-se de uma palavra ainda não trazida para as páginas de dicionários, embora seu significado esteja incorporado ao cotidiano daqui. Talvez até exista no inglês-irlandês, mesmo que eles não gostem que nós, estrangeiros, a pronunciemos. Um professor arriscou-se a uma tradução livre que dava aos knackers o significado de trombadinha, mas acredito ter sido infeliz na tentativa.

Há alguns meses, já venho pensando em escrever sobre essas pessoas aqui assim denominadas. Para mim, é estranho elas existirem num país que detém a terceira posição no Índice de Desenvolvimento Humano e, portanto, um território com muito dinheiro, oportunidades e amparo do Estado.

Os knackers, considerados os pobres daqui, usam roupa nova e exibem marcas como Nike e Adidas. Por opção, escolhem não trabalhar, já que o Estado os financia com uma média de 1.000 euros ao mês. É um valor superior à média salarial dos latinoamericanos. Mesmo com essa grana, eles perambulam pelas ruas de Dublin suplicando por alguma esmola.

Não é difícil encontrá-los deitados ao chão, em plena luz do dia, com alguma seringa espetada no braço para o consumo de heroína. Também não é difícil vê-los, nestes momentos de alucinações, não conseguirem ao menos se segurar com relação às necessidades fisiológicas. É uma cena chocante, que de certa forma entristece e nos faz pensar em como conseguiram descer a um patamar tão degradante.

A questão das drogas e da mendicância é um problema existente em todos os países, mas aqui é diferente. Diferente porque, quem se recusa a dar algumas moedas está simplesmente sujeito a levar uma surra em plena luz do dia. O endiabrado pode chamar alguns amigos e, de repente, cinco, dez, quinze ou vinte aparecem para ajudá-lo a espancar você. Esta violência gratuita não ocorre apenas em função da recusa de algumas moedas, ela pode ser mais barata ainda. Eles podem simplesmente não ter ido com a sua cara.

No último mês, fiquei sabendo de pelo menos três casos de agressões desta natureza. Em uma delas, um polonês morreu com uma facada na altura do rosto depois de ter sido violentado por vinte deles. Em outro, uma irlandesa ficou completamente desfigurada. E no terceiro, um espanhol caminhando na rua recebeu uma latada no rosto e, ao devolvê-la em direção aos arremessadores, foi jogado ao chão e chutado por cinco membros da tribo.

Com mais propriedade, por ter acompanhado de perto, posso relatar um outro episódio de agressão ocorrido com um casal de amigos brasileiros. Em sua primeira semana em Dublin, dentro da estação de trem, recusaram-se a dar esmola a um adolescente. Em pouco menos de um minuto, estavam cercados por mais cinco. A garota recebeu um tapa na cara e colega foi jogado no chão, onde recebeu chutes nas costas, barriga e rosto. Não revidou, com medo de que as leis daqui protegessem mais os knackers irlandeses do que o estudante brasileiro. Dos cinco, quatro conseguiram fugir, um acabou preso.

Antes de entrar na viatura, o agressor deu uma cusparada na cara do policial, que apenas se limpou, já que aqui a lei é severa com relação ao policial que abusa da autoridade. Encaminhado para a cadeia, o knacker pagou 300 euros de fiança e foi liberado. No dia seguinte, meu amigo, ao utilizar a mesma estação, deparou com 20 deles à sua espera. Conseguiu fugir e ficou morando por um tempo em minha antiga casa.

Sempre que recebo essas notícias de violência gratuita não deixo de lembrar dos nossos meninos em estado de abandono nas ruas do centro de São Paulo. Mais injustiçados pelo sistema, não agem com a mesma violência e atrocidade. Pedem esmolas e praticam furtos, mas estão longe de receber 1000 euros por mês para pagar suas contas. Ao contrário, as lembranças mais vivas de violência banal que tenho do Brasil foram cometidas pela classe média ou por policiais. Numa delas, um índio foi queimado na capital do Brasil, e, em outro escândalo, crianças foram covardemente mortas por policiais no Rio de Janeiro, episódio conhecido como chacina da Candelária.

Também me vem à mente o último relatório da FAO, Organização da ONU para Agricultura e Alimentação, que registrou, desde o último mês de janeiro, mais de 3,7 milhões de somalianos necessitados de ajuda humanitária, quase o mesmo número de habitantes que a Irlanda possui. A Somália ainda registra o índice de, a cada cinco crianças, uma sofrer de desnutrição aguda.

Fica difícil compreender porque o rico Estado irlandês ainda auxilia financeiramente essas pessoas e, por conseqüência, a prática destes crimes. Fazer vista grossa para uma situação que se agrava a cada dia tornará este problema cada vez mais grave. Com os 1000 euros, ficaria muito mais fácil investir no tratamento contra drogas, caso este seja o real problema, ou na re-socialização destas pessoas. Fornecer dinheiro e fingir que nada existe só trará medo e receio para os habitantes, principalmente os estrangeiros, alvos preferidos pelos knackers!

terça-feira, 30 de junho de 2009

15% dos irlandeses desempregados


A notícia foi lida em voz alta por Rui, o chinês que divide o apartamento comigo, dando início a uma conversa que envolveu a namorada dele, uma coreana. Dois moradores de longa data na capital irlandesa.

Há cinco anos, Dublin representava dinheiro. Fortuna. Lugar onde os que se ocupavam dos chamados subempregos conseguiam acumular uma boa quantia de euros, o que estimulou grandes fluxos migratórios para este país. Chineses, latinos, árabes e africanos vieram tentar a vida num local que era sinônimo de qualidade de vida.

Brasileiros com nível superior desistiram de suas profissões e se dispuseram a trabalhar como faxineiros, cozinheiros, atendentes de shopping. Grande parte deles conseguiu realizar o sonho de comprar pelo menos uma casa no local de origem, ou viajar por toda a Europa.

Se a situação era cômoda e favorável para estrangeiros, imaginem para os legítimos irlandeses. Pegamos como exemplo a profissão de editor de imagens, a que me encaixo e que conheço melhor. No Brasil, o piso salarial está em torno de R$ 800,00 mês. Em Dublin, estes mesmos 800 se transformam em euros, e são pagos semanalmente. Cerca de 3.200 mês, valor que, convertido para o real, chega a 10.000. Suficiente? A média de gasto dos brasileiros que por aqui está em torno de 500 a 700 euros. Com esse valor, é possível, para nós, latinos, ter mais de 2000 euros de reserva mensal!

Há 20 anos, a situação era bem diferente. Irlanda era sinônimo de pobreza, guerras, tentativas de independência, realidade mudada graças a projetos tecnológicos de multinacionais estadunidenses que por aqui também aportaram.

Facilidade pelo idioma? Relações familiares? (grande parte dos norte americanos têm descendência irlandesa). Bom, o certo é que viraram um país com tecnologia, ocupando o terceiro melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, e com um sistema de bem estar social capaz de garantir dignidade à grande parte dos cidadãos. 

Essa transformação foi ilustrada em uma conversa com Eoghan MC Demond, um jovem camarada irlandês. Há 15 anos, os pais dele compraram uma casa, na qual ainda vivem, por cerca de 19 mil euros. Avaliada há poucos meses para possível revenda, o valor foi estimado em 800.000 euros. Um aumento de 4.000 %. 

O Welfare (bem estar social) é poderoso. Desempregados, mulheres grávidas, pessoas com dependência alcoólica e de drogas, crianças, enfim... Quase toda uma população era beneficiada com 800 euros mês. Cheguei a ouvir de um professor que quem não quisesse trabalhar teria a opção de viver às custas do Estado. Mas em tempos de crise, a mamata acabou!

O fortíssimo assistencialismo já não está tão forte assim. A recusa para empregos que apenas latinos, orientais e africanos faziam, deixou de existir. Para “arrumar a casa”, passaram a contratar irlandeses para estes tipos de serviços. Resultado: muitos imigrantes, agora desempregados, estão retornando para os locais de origem. Os mais antigos, com o sentimento de vitória, pois aproveitaram o melhor período; e os novatos, com olhar de derrota, já que muitos nem o curso de seis meses de inglês conseguiram terminar. 

O que pude perceber é que os novos habitantes dublinenses vieram para este lugar especialmente por conta do aprimoramento na língua. Mas a necessidade de encontrar um trabalho, já que é extremamente dispendioso viver por aqui, está tornando a situação difícil. Conheço muitos que chegaram comigo e estão voltando. Sei de escolas que ocupavam três prédios, e que agora cabem em apenas um. A situação parece assustadora.

E os primeiros, nesta história toda, a serem atingidos são os imigrantes não europeus. Minha primeira pergunta para Rui, após ler a manchete, foi: São 15% de irlandeses, ou da população como um todo? Depois da conversa e das análises, entendi o porque da risada sarcástica e do olhar solitário. A fala mansa gaguejou, “Claro que é só irlandês, eles não se importam conosco”!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O dia em que disseram que nossa língua era de macacos


O infeliz episódio mencionado no título aconteceu dentro de uma produtora de vídeo responsável por um programa semanal de televisão sobre música, semelhante aos que podemos assistir na MTV. Ou seja, em meu próprio local de trabalho.

Ali, além de receber cerca de 10 vezes menos do que um irlandês ganharia na tarefa que eu desempenho, convivo diariamente com pelo menos três infrações que as leis trabalhistas brasileiras se incumbiriam de punir: receber menos que o salário mínimo (por aqui é de pouco menos que 9 euros por hora); acumular funções (cinegrafista e editor); e não ter registro em carteira.

Como imigrante, não entro em muitos méritos para questionar com a chefia o descumprimento de algumas leis, até por que no Brasil também não é incomum encontrar imigrantes latinos ou coreanos sendo explorados na cidade de São Paulo. A crise econômica por esta parte do mundo é bem mais grave do que fazem crer as notícias sobre a crise brasileira que por aqui chegam. Por enquanto, é melhor trabalhar do que ter que regressar ao Brasil. 

A produtora à qual eu pertenço não é grande. A equipe é formada por um apresentador, uma produtora, um editor, eu e o diretor, que exerce também a função de cinegrafista. No dia em que fui obrigado a ouvir o despropósito que dá título a esta coluna, o preconceito estava menos sutil que de costume. E um certo desconforto já havia tomado conta de minha alma, levando consigo o sorriso e as risadas que costumavam dar o tom de nossas conversas.

Em certo momento, o diretor fez, como já o fizera em algumas outras oportunidades, uma piada preconceituosa sobre os brasileiros. Não pude entender ao certo a que se referia e lhe pedi que repetisse a gozação, mas ele não o fez. Então, me propus a falar em português. Chamei o camarada de mala e paralelepípedo, palavra cuja sonoridade já é suficiente para embaralhar até mesmo os ouvidos educados no Brasil. Nessa hora, o apresentador, um jovem com alguns anos a mais que eu, mas que me surpreendeu pela simpatia e solidariedade durante toda minha estada na produtora, arriscou-se a reproduzir em português uma das frases universais que a ele eu havia ensinado em nossa língua: “Viny, o chefe é um filho da puta”. Dei risada...

O diretor, com a cabeça enfiada num buraco com pelo menos 2 metros de profundidade (afinal, o colega aprendera alguma coisa num idioma diferente do seu, enquanto ele...), não conseguia esconder a vermelhidão que tomou conta de pela branca que lhe recobre um rosto pouco familiar aos raios de sol. Mas então soltou o impropério: “Português é uma língua falada por macacos”. Um filme se passou na minha cabeça... Todas as notícias, de várias partes do globo, relatando racismos recaíram sobre meus ombros.

Sentindo que em pouco tempo algumas lágrimas iriam me denunciar, encontrei forças para montar, em inglês, uma frase que seria a última daquele dia: “Macaco é você, incapaz de diferenciar francês, português e espanhol”.

Não consegui disfarçar o desconforto de ouvir uma afirmação tão inútil quanto desprezível. No fim do expediente, fui embora sem trocar qualquer palavra. Regressei ao lar e continuei calado, sem esboçar meias ou inteiras palavras com os colegas de república, todos tão estrangeiros quanto eu. Tomei banho, jantei e dormi.

Acordo de ressaca. Com um mal estar que uma única noite de sono seria incapaz de curar. O que poderia fazer? Estou no país do cara, ele é meu chefe, preciso continuar estudando. Mas não poderia deixar florescer em mim sentimentos até mais arcaicos que os dele. Teria que ser, mais do que nunca, inteligente. Inteligente o suficiente para me sentir bem, para responder tal ofensa e, com sorte, mudar um pouco a cabeça de um racista como aquele. 

Voltei ao trabalho ainda com a cara fechada. Os olhos tornaram a querer me denunciar. Fui abordado pelo apresentador do programa, que me perguntou o que se passava. Desabafei. Disse que não agüentava preconceito e racistas perto de mim; que no Brasil já havia lutado contra isso, e não teria vindo para ser humilhado no continente ao qual chamam de primeiro mundo. Ele se desculpou pela grosseria do chefe e sugeriu que com ele conversasse, admitindo a hipótese de que, em sua santa ignorância, o agressor fosse incapaz de imaginar que macaco não é elogio, mesmo se dito aos que amam uma natureza de fauna tão exuberante quanto a brasileira.

Pois bem. No fim do expediente pedi uma conversa. Disse que não havia gostado do que ouvira. Ele se desculpou naquela modalidade de desculpa sem o olho-no-olho que revelaria a sinceridade que nos sai dos corações. Na língua do camarada, que agora me soa mais familiar, disse-lhe o que aconteceria com ele se tivesse se manifestado daquela maneira no Brasil.

Que o primeiro a pegá-lo seriam os policiais, que antes de colocá-lo na cadeia já lhe dariam umas boas porradas. Acrescentei que nem os euros pagariam o valor da fiança, e que, por ser branco e racista, teria seu “PINK ASS” destruído na prisão. Disse que, caso tivesse o azar de não ir para a cadeia, na rua sua sorte não seria muito melhor, voltando a citar o “PINK ASS” e apontando para o pé da mesa! 

O timbre de voz do camarada ficou bem diferente de quando pedira as desculpas pouco sinceras, pois finalmente, no único idioma que entende, percebera quanta bobagem havia saído de sua boca. Meu coração voltou a bater no compasso normal. Peguei minha bicicleta e voltei para casa. Aliviado, expliquei ao panamenho o motivo de ter permanecido mudo na noite anterior. Como latino e igualmente vítima de preconceitos, riu quando lhe contei o desfecho da história!

domingo, 3 de maio de 2009

O camarada checo


Michal, cuja pronuncia é “Mirrel”, tem 24 anos e trouxe consigo a namorada Aneta para uma nova vida em Dublin. Na República Checa, Michal era lenhador e pedreiro. Mas como a vida deste lado do oceano é bem diferente, o camarada fala fluentemente alemão e tem uma noção básica de inglês. Aneta, como havia estudado inglês por seis anos, tem um bom conhecimento da língua. 

Perguntei se não teriam vontade de ingressar em uma universidade, fazer um curso superior, enfim, ter o mesmo desejo de uma boa parcela da população jovem brasileira. E eles me responderam: “Lá é muito difícil, tem poucas instituições. É preciso estudar muito, em colégios bons e caros”. Na hora lembrei de nosso país, que, ao contrário, tem muitas faculdades, mas que, de tantas, talvez nem seja valioso que as frequente.

Sem curso superior, mas não triste ou sequer pensando em sua sorte, veio para a Irlanda e encontrou no cleaner a forma da sobrevivência. Um trabalho simples, como ele mesmo diz, em comparação com as profissões exercidas na República Checa. Na companhia da namorada, divide 2 andares de limpeza de segunda a sexta num escritório do Banco da Irlanda. 

Na primeira saída com o casal, não foi difícil perceber o primeiro vício do rapaz. Pelas longas caminhadas que Dublin nos proporciona, o jovem checo inclina a cabeça em direção ao chão e faz literalmente uma varredura na busca por moedas. Logicamente que o valor delas, na maioria dos casos, não ultrapassa os 2 centavos de euros, mas talvez valha mais como uma diversão; e com boas gargalhadas quando se tem a sorte de encontrar valores mais altos.

Michal relatou as belezas e a história de seu país. Não soube ao certo precisar o período, mas disse que a arquitetura é de impressionar. Segundo o camarada, é possível andar de motos no gelo por 4 euros a hora, barato pelos padrões europeus. Assim como a cerveja em um pub, que diferentemente dos 5 euros cobrados em Dublin, custa apenas 50 cents. Através do relato dele, pude imaginar um pouco como seria o ambiente de descontração checo; diferente da mesa de sinuca encontrada nos nossos brasileiros, o pebolin faz a diversão.

Nas conversas de sábado à tarde, na maioria das vezes em sua casa, retrata uma característica que me faz imaginar ser a do povo checo: receptivo. A comida, servida fartamente, surge a cada pausa na conversa. A base da alimentação é a batata, que pode ser feita como uma espécie de nhoque, ralada e frita, ou assada com ketchup e cebola. 

Em Dublin, Michal teve talvez um dos prazeres que mais encanta grande parte dos seres humanos: estar diante do mar. Na Irlanda, a praia é deserta devido ao frio, mas oferece lindas paisagens quando o chuvoso tempo dá uma pausa. Segundo disse, foi uma experiência indescritível, uma das cena mais lindas das quais esteve diante. Completei, dizendo que depois de conhecer o mar, precisa conhecer a praia, e logicamente sem as três blusas sobrepostas que o frio daqui nos obriga; e comentei de Rio de Janeiro e Salvador. Ele prometeu em quatro anos me visitar, assim que conseguir um pouco mais de dinheiro.

Há poucos dias, Michal deu uma notícia que me deixou feliz. Agora, vai ser pai. Ele, alegre, com ar de despreocupado, espera ansioso a chegada de seu filho para jogar futebol e playstation. A boa notícia trouxe uma não tão boa assim. O camarada retornou para o país de origem. Lá, assim como na maioria (para não me arriscar a dizer em todos os países Europeus), o Estado fornece auxílio financeiro para a família. 

Michal e Aneta, há um ano juntos, vieram para uma nova vida em Dublin. Ganharam um filho e retornam para casa, para os braços dos pais, que agora são avôs. Michal e Aneta: um casal de amigos que mora do outro lado do oceano, num país gelado, com mulheres lindas, como ele mesmo disse. Agora se foram, mas na saudade os amigos permanecem ao nosso lado. No fim da minha estada por aqui, irei visitá-los. Espero conhecer o amado bebê. E, quem sabe, levar um presente bem brasileiro. 

Michal e Aneta, foi um prazer! Um grande abraço e boa sorte na vida! 

domingo, 12 de abril de 2009

O bem-estar social na crise

Aqui vive-se a condição de bem-estar social, em que o Estado fornece todo tipo de assistência ao cidadão. Se um casal tiver um filho, a preocupação em como sustentá-lo chega a ser inexistente se o problema for apenas dinheiro. Por filho concebido, os pais recebem cerca de 800 euros por mês até que os estudos sejam completados. 

Se estiver desempregado, existe o auxílio mensal correspondente ao mesmo valor, situação que permite que muitos dos irlandeses não queiram trabalhar. Este auxílio também se estende a todo cidadão europeu que tenha trabalhado por pelo menos um ano na Irlanda. Sem contar que, em qualquer tipo de emprego com jornada de apenas 3 horas ao dia, é possível receber o suficiente para custear moradia, saúde, alimentação, transporte e lazer. 

Uma sociedade acostumada ao grande auxilio estatal, mas que neste tempo de crise, está temerosa. Na última semana, todos os jornais de Dublin circularam com a mesma manchete “The budget from hell” – O orçamento do Inferno. Os anúncios são assustadores: cortes superiores a 1 bi para este ano, e mais de 4 bi para o próximo. As áreas afetadas serão justamente as que diferem a Europa de toda a América, com o bonito nome “Bem-Estar Social”, responsável por algumas das diferenças [entre eles e nós, brasileiros] anunciadas no primeiro parágrafo deste texto.

A batata não está esquentando apenas nas mãos dos irlandeses. Nossos conterrâneos brasileiros também têm encontrado bastante dificuldade na procura por emprego. O preconceito também começa a existir, já que sustentam a ilusória idéia de que são os latinos os responsáveis pelo fim das vagas dentro do mercado de trabalho. Notícias de conhecidos que trabalham em companhias aéreas indicam que os voos ao Brasil cada vez comportam mais brasileiros, e que grande parte retorna por conta da falta de trabalho. 

Sem dinheiro em caixa, a realidade irlandesa terá que mudar. O primeiro passo anunciado é pedir socorro ao FMI, mesmo fundo ao qual sempre fomos devedor, e do qual hoje, segundo Lula, viraremos credor. Os U$ 4,5 bi que o Brasil emprestará ao Fundo vai auxiliar a re-aceleração dos mercados mundiais, que tenho percebido ser uma verdadeira máquina, bem mais tecnológica que a nossa. Depois que esta tempestade passar, o auxílio que dermos à sociedade do bem-estar social, ou a dos loiros de olhos azuis como disse nosso presidente, não nos fará desfrutar desta condição. O bem-estar social continuará deste lado do mundo, enquanto pelo lado das Américas continuaremos sem moradia, salário digno, amparo no infortúnio ou mesmo uma condição real de sobrevivência e desenvolvimento. 

domingo, 15 de março de 2009

A diferença de padrões


Em pouco mais de um mês na Irlanda, pude conviver em uma típica casa Irish e outra formada por brasileiros, sueco e espanhol. Pude também presenciar e sentir a diferença nos padrões diários de sobrevivência e qualidade de vida de ambos os locais. E eles são muitos!

Logo na chegada tive a oportunidade de morar por duas semanas na casa da família Murphy. Apesar do intenso frio, todas as noites dormia com a mesma temperatura a que estava acostumado no Brasil. Chegava até a suar durante as madrugadas. O aquecedor instalado ao lado da cama me fazia esquecer da neve que costumeiramente caia do outro lado da janela.

Quando lavei uma parte de minhas roupas, elas secaram em apenas uma tarde, afinal, o aquecedor, que sempre estava ligado, supria toda a demanda. A hora do sagrado banho era o momento mais relaxante do dia: a água, quase fervendo, caía com a intensidade de uma cachoeira. Também era comum tomar dois banhos ao dia, assim como fazia no Brasil; um ao acordar, e outro antes de dormir.

O grande problema era a distância em relação ao centro de Dublin. Precisava de uma hora dentro do ônibus para sair do subúrbio, sem contar o tempo de espera para que ele passasse, além do deslocamento a pé até o próprio ponto de embarque. A água da casa irlandesa era filtrada, e todos os dias me deliciava com alguns dos chocolates típicos do país. A cerveja na geladeira era Budweiser, uma das mais caras por aqui. Tomei algumas delas enquanto jogava sinuca com o George, numa grande mesa que fica em uma das três salas do lugar. 

Também havia dois jardins, o da frente e dos fundos. Três banheiros, quatro quartos, um reservado apenas para mim, além de dois carros na garagem, um para cada motorista da casa. Como já disse em texto anterior, era difícil andar pela residência sem me deparar com um brinquedo ou não reparar na imensa TV de plasma, de alta definição, que ocupava espaço especial em uma das salas.

Duas semanas e já me mudei. Logo na chegada percebi que a temperatura da nova casa seria diferente. O heater (aquecedor) não estava ligado, apesar do frio que fazia ao lado de fora. Na primeira conversa, algumas regras me foram passadas. Entre elas, lavar roupa apenas à noite. Existem valores diferenciados, segundo o horário de consumo, para o preço da energia elétrica. O banho, preferivelmente, também teria que ser à noite, mas era necessário ligar o boiler (aquecedor a gás da água) com pelo menos 30 minutos de antecedência. Na primeira ducha senti outra, e talvez a mais dramática das diferenças: a água não tão quente assim, fica completamente gelada na hora de lavar a cabeça.

Os carros na garagem são substituídos pelas bicicletas na varanda do apartamento; e o quarto, que antes era apenas meu, hoje abriga mais quatro pessoas. O aquecedor deu lugar a um edredom e dois cobertores. Na primeira vez que lavei roupa no novo lar, era época de neve. Resultado: a calça jeans demorou cinco dias para secar. 

Os chocolates de sobremesa são comprados apenas quando o corpo necessita de algum doce. E a deliciosa loira gelada, a paixão da maioria dos brasileiros, tem marca e rótulo bem diferentes do Brasil. Numa garrafinha de vidro, parecida com um xarope e de nome FinkBrau, custa apenas 50 cent`s. Nem sempre elas cabem no frigobar que precisa ser socializado entre seis pessoas. Mas no frio que predomina aqui, basta colocar a bebida do lado de fora da janela que em poucos instantes estará bem gelada.

Diferenças nos padrões de vida, diferenças nas relações humanas. Quando me despedi da família Murphy, apenas George me estendeu a mão, sem insinuar sinal de qualquer abraço. Sarah, sua esposa, apenas acenou um tchau, assim como os três filhos, com os quais, no dia anterior, eu havia brincado de guerrinha de neve. Na atual residência, dos estudantes que vivem controlando as finanças, o aperto de mão é quase que uma rotina, assim como os sorrisos, os brindes nas garrafinhas de vidro e algumas piadas. Uma relação que aquece o ambiente gelado e que torna o heater um mero enfeite na parede. 

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O dia que o irlandês chorou

Era uma quarta feira a noite. O frio e as geadas obrigavam grande parte da população irlandesa a ficar enfurnada em casa com os aquecedores ligados na máxima potência. O sofá, convidava para um confortável cobertor, e algum filme na televisão de plasma, de alta definição, e com um número de polegadas que eu nem conseguia imaginar.

Já tinha comentado em minha Host Family de um documentário que havia realizado com dois catadores de recicláveis. Talvez, pela falta de um grande vocabulário em inglês, e de uma realidade tão oposta a brasileira, eles não tenham conseguido visualizar o contexto geral do vídeo. 

Entreguei uma copia de “Eles não vão à Daslu” a George Murphy, o pai de família, que se prontificou na hora em assisti-lo. Por não saber o conteúdo, e com a certeza que os filhos, nem alfabetizados ainda, seriam incapazes de acompanhar as legendas, tomou a decisão de colocar todos para fora da sala. Ficamos apenas ele, e eu.

Estava nervoso, além de ser o primeiro estrangeiro que acompanhava o vídeo legendado, queria saber as reações e emoções deste único expectador, que convive em uma realidade completamente diferente. George, jamais tinha se deparado com algo parecido, para ele, se o país é pobre, é pobre como um todo, se é rico, é rico como um todo, mas nunca desigual, igual ao Brasil.

Os 20 minutos correram. Julio criticou o sistema e Eunice apresentou os 8 filhos. Declarou que as datas mais difíceis são o Natal e a Páscoa, quando nunca pode comprar nada para presenteá-los. A cada momento que os personagens narravam suas histórias, George se afundava um pouco mais no sofá. Ele apenas levantou o pescoço, para passar o olho pela imensa sala, recheadas dos brinquedos que os filhos de Eunice tanto queriam. 

George tem três filhos, e certamente são as maiores paixões de sua vida. Brinca diariamente com todos eles, e em uma sociedade consumista como a européia, adora presenteá-los. São bonecas, carrinhos, castelos, triciclos motorizados. Talvez haja mais variedade de brinquedos ali, do que em algumas lojas destinadas a crianças em São Paulo.

Ao final do curta, George disse “It`s hard the life in Brazil”. Ele não imaginava que poderia haver tanta pobreza em um lugar que não fosse a África. George, não tem curso superior, trabalha na faxina do aeroporto, mas tem casa própria, dois carros e vai pela segunda vez com os filhos para a Disney.

Com o espírito que é fácil encontrar no povo irlandês, combativo e progressista, perguntou: “What we can do?”. Olhei nos seus olhos, vi algumas lágrimas que atenderiam qualquer coisa que me pusesse a sugerir. Mas infelizmente só tinha uma resposta “Nothing George, nothing”.

PS: Quero dividir os sentimentos desta sessão particular com as pessoas que também construíram esta história: Bernando Fernandes, Denise Tavares e Marcella Elias.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O primeiro protesto na Irlanda

As placas penduradas em postes de iluminação anunciavam que os estudantes tomariam as ruas num 4 de fevereiro. Há pelo menos uma semana desta data, já era possível saber o motivo da aglutinação: “Free Education”.

Assim como no Brasil, uma educação com um pingo de qualidade tem que ser paga. Não que na Irlanda cheguem boletos mensais com valores exorbitantes. A cobrança é diferente. O valor é revertido nos materiais e provas acadêmicas (FEES): cerca de 5 mil euros anuais.

Motivo que levou centenas de estudantes com os rostos pintados de azul para o centro de Dublin. Concentrados na rua Merrion Square, em frente ao parque que leva o mesmo nome, exibiam placas como “Free Education for Everyone”, ou “No to FEES”. Portando apitos, megafones e muito fôlego na garganta, não pararam um minuto de gritar. 

O que me chamou a atenção, foi um clima de cobrança ao presidente eleito no Estados Unidos, Barack Obama. Para os irlandeses, ele deve tomar alguma atitude urgente para controlar e acabar com a crise econômica mundial. Na Irlanda, o colapso financeiro está levando muitos brasileiros a pegarem o avião de volta, e alguns irlandeses, ao desemprego.

Foram duas as maiores diferenças de um protesto em Dublin, com algum outro realizado no Brasil. Não vi sequer um caminhão de som pela rua, mas sim alto-falantes pendurados em postes propagando os gritos de ordem ditos pelas lideranças estudantis. Segundo um dos organizadores Steven, não há problemas na instalação destes alto-faltantes, cujo abastecimento elétrico é realizado pela iluminação pública. 

O mesmo sujeito, informou que no protesto existiam cerca de 500 pessoas. Achei um valor muito baixo, quando comparei com as estatísticas apresentadas geralmente pelos manifestantes brasileiros. Utilizando “nosso padrão”, calculei que ali haviam cerca de 2000 estudantes. 

O mais surpreendente de tudo isso, e que se encaixa na outra diferença anunciada dois parágrafos acima, foi o valor divulgado pela imprensa. O diário Metro, de distribuição gratuita e diária, informou que 15.000 pessoas tomaram as ruas!

Como jornalista não aprovo a postura de supervalorizar qualquer tipo de informação. Acredito que devamos apenas retratar a verdade, mas confesso, que quando a li, estampada na primeira página, abri um sorriso irônico, e pensei “bom seria, se no Brasil fosse assim, e tivéssemos uma imprensa a favor das causas do povo”. 

Perdi a conta de quantos protestos registrei, e no dia seguinte os jornais publicavam um número completamente inferior, com o intuito apenas de desmobilizar e enfraquecer os manifestantes, que apenas lutavam pelos seus direitos.
Pelo que pude perceber, com ou sem apoio da imprensa, esses estudantes voltarão as ruas, caso as reinvidicações não sejam atendidas.

PS: Peço desculpas aos leitores pela ausência de novas informações. A internet ainda é um problema aqui. Devo, daqui umas 2 semanas, estabelecer uma conexão onde resido, enquanto isso, segue na ausência de periodicidade.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Uma noite revolucionária




Quando se fala em Irlanda, grande parte dos corações revolucionários, lembra-se do IRA (Irish Republican Arm), exército que lutou pela independência do país dominado pelos ingleses. As armas foram entregues em 2005, mas o coração dos jovens ainda é revolucionário.

Desde o primeiro dia de minha chegada na terra da Guiness, vi cartazes com imagens do Che Guevara espalhados pela cidade. Ele convidava a participar de um evento em homenagem aos 50 anos da Revolução Cubana. Me interessei. Saquei o caderninho do bolso, tomei notas do endereço, e me pus, na noite de ontem, dia do evento, a procura-lo.

Depois de muitas perguntas (apesar de mapa que carrego, adoro faze-las, principalmente por ser bem atendido pelos irlandeses), cheguei na rua anotada e me surpreendi com o local indicado. Diferente do Brasil, onde reuniões como esta são feitas em sedes de partidos políticos ou sindicatos, na Irlanda, eles estavam reunidos no Grand Hotel. Localizado em uma das mais nobres ruas da cidade. Realmente, era um dos últimos locais que pensei em encontrar aquela turma.

Em um salão com lustres enormes, cerca de 30 pessoas se reuniram. Dois brasileiros, alguns poucos espanhóis, e a maioria irlandeses, o debate, em prol do socialismo, teve como principal expressão usada "worker class".

Vale a pena ressaltar que neste mesmo dia a capa de todos os jornais anunciavam uma reunião do governo irlandês para debater um corte de 2 Bilhões de Euros no orçamento anual do país. Portanto, uma feição de preocupação permaneceu no rosto da população local durante todo o dia. Conversei com um jornalista do "Irish Times" na porta do prédio onde ocorria a discussão, e ele se mostrava apreensivo. "It`s shit" dizia ele em diversos momentos. 

Pois bem, mesmo com uma questão delicada como esta, os jovens barbudos e socialistas se reuniram poucos minutos depois para discutir um outro tema: Che Guevara e a América Latina. Logicamente que citaram questões de seu país, mas o que mais me chamou a atenção foi justamente a preocupação deles com os países considerados emergentes. 

Brasil, Bolívia, Cuba, Venezuela, entre tantos outros, foram lembrados. De nosso país, revelaram um dado que pra mim foi surpreendente: 7 milhões de pessoas moram ou trabalham nas ruas. 

Ao ouvir isso não pude deixar de lembrar de dois documentários que gravei "O vendedor de balas" e "Eles não vão à Daslu". Lembrei de Lucas, Julho e Eunice. Tentei imaginar como seria diferente se eles fossem europeus. Lucas com certeza teria sua vinicula, Julho poderia levar os filhos no teatro e Eunice comprar a tão desejada boneca da Barbie para sua filha.

A reunião acabou cedo. Vim pra casa dormir e sonhei com alguns dos takes destes vídeos. Hoje entreguei uma cópia para o George, o irlandês que me hospedou em sua casa. Mas essa é uma outra história.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Passaporte, as loiras e o jornalista


Para chegar em Dublin, precisei mostrar o passaporte em pelo menos 3 momentos. Ao sair do Brasil, chegada em Madrid e finalmente na Irlanda. Em cada um desses países fica evidente o tratamento diferenciado de quem é "gringo".

Em Guarulhos, nós brasileiros, podemos nos sentir um pouco mais privilegiados. Praticamente não há revistas às pessoas nascidas em nosso país, a não ser aquelas corriqueiras: esvaziar os bolsos, tirar o cinto, passar a bagagem pelo Raio X...

Nesta mesma fila, logo atrás de mim, estava um senhor de olhos puxados, na casa dos 50 anos. Sotaque bem forte de um legitimo castelhano. Apenas por ter nascido em outro lugar, teve uma revista bem mais fina, sendo obrigado a tirar os sapatos para passar no detector de metais. Nem os seus cabelos brancos pesaram a favor.

Já no imenso aeroporto de Madrid, que abriga túneis, ônibus e esteiras rolantes para o deslocamento de passageiros, existem cerca de cinco cabines para a checagem do passaporte. Três delas exclusivas para cidadãos da União Européia, e duas para o "resto dos países" (expressão usadas por eles). Neste lugar foi a vez dos brasileiros tirarem os sapatos. Todo mundo de "meinha" no chão enquanto, do lado dos europeus se caminhava tranquilamente para o embarque.

A terceira vez que abri a mochila para pegar meu passaporte foi em Dublin. Haviam novamente cinco filas, ma agora, com a especificação "all countries" Também havia uma fila a mais para os não europeus. Pois bem, de nada adiantou, as três ficaram estacionadas. Duas com brasileiras e uma com um argentino. Conversei com a colega de uma das brasileiras que respondia icansavelmente as perguntas dos fiscais, ela me disse "Nós duas estamos em viagem pela Europa já faz algum tempo, fazendo as mesmas coisas, mas sempre é ela a questionada nos lugares. Eu acho que é porque é loira"!

Assustado, a questionei, "Mas como assim, loira?", e ela prosseguiu "brasileira não pode fazer mechas, ou ter cabelos tingidos. Olha a outra que está emperrada, também é loira, e foi assim por toda a Europa".

Não muito convencido, fui para a cabine, sabendo que, pelo menos, as mechas loiras não seriam o meu problema. Queria que o martírio de conversar num lingua não dominada, com o senhor mau-humorado, terminasse logo. Entreguei todos os documento, inclusive a Carteira Internacional de Jornalista, esta, com uma capa vermelha, semelhante aos de passaportes dos figurões internacionais.

Ao vê-la, o senhor de mau-humor arregalou os olhos e se portou diferente. Perguntou se era o tal do passaporte, e eu disse que não, que era a de jornalista. Não me perguntou mais nada. Preencheu a papelada rapidamente, permitindo minha entrada quase que instantânea, mais rápido, inclusive que a dos próprios europeus. Pronto, estava em Dublin!


OBS: Para tirar essa carteira salvadora, basta pagar 4 anos de qualquer faculdade e se graduar jornalista. Pegue o diploma, vá ao sindicato, pague mais 3 parcelas de R$ 17,00 (mensalidade de 3 meses) e R$ 45,00 (taxa de carteira nacional). Espere 20 dias e pague mais E $ 30,00 e saia com sua carteira Internacional de Jornalista. Sem nenhuma burocracia.