domingo, 12 de abril de 2009

O bem-estar social na crise

Aqui vive-se a condição de bem-estar social, em que o Estado fornece todo tipo de assistência ao cidadão. Se um casal tiver um filho, a preocupação em como sustentá-lo chega a ser inexistente se o problema for apenas dinheiro. Por filho concebido, os pais recebem cerca de 800 euros por mês até que os estudos sejam completados. 

Se estiver desempregado, existe o auxílio mensal correspondente ao mesmo valor, situação que permite que muitos dos irlandeses não queiram trabalhar. Este auxílio também se estende a todo cidadão europeu que tenha trabalhado por pelo menos um ano na Irlanda. Sem contar que, em qualquer tipo de emprego com jornada de apenas 3 horas ao dia, é possível receber o suficiente para custear moradia, saúde, alimentação, transporte e lazer. 

Uma sociedade acostumada ao grande auxilio estatal, mas que neste tempo de crise, está temerosa. Na última semana, todos os jornais de Dublin circularam com a mesma manchete “The budget from hell” – O orçamento do Inferno. Os anúncios são assustadores: cortes superiores a 1 bi para este ano, e mais de 4 bi para o próximo. As áreas afetadas serão justamente as que diferem a Europa de toda a América, com o bonito nome “Bem-Estar Social”, responsável por algumas das diferenças [entre eles e nós, brasileiros] anunciadas no primeiro parágrafo deste texto.

A batata não está esquentando apenas nas mãos dos irlandeses. Nossos conterrâneos brasileiros também têm encontrado bastante dificuldade na procura por emprego. O preconceito também começa a existir, já que sustentam a ilusória idéia de que são os latinos os responsáveis pelo fim das vagas dentro do mercado de trabalho. Notícias de conhecidos que trabalham em companhias aéreas indicam que os voos ao Brasil cada vez comportam mais brasileiros, e que grande parte retorna por conta da falta de trabalho. 

Sem dinheiro em caixa, a realidade irlandesa terá que mudar. O primeiro passo anunciado é pedir socorro ao FMI, mesmo fundo ao qual sempre fomos devedor, e do qual hoje, segundo Lula, viraremos credor. Os U$ 4,5 bi que o Brasil emprestará ao Fundo vai auxiliar a re-aceleração dos mercados mundiais, que tenho percebido ser uma verdadeira máquina, bem mais tecnológica que a nossa. Depois que esta tempestade passar, o auxílio que dermos à sociedade do bem-estar social, ou a dos loiros de olhos azuis como disse nosso presidente, não nos fará desfrutar desta condição. O bem-estar social continuará deste lado do mundo, enquanto pelo lado das Américas continuaremos sem moradia, salário digno, amparo no infortúnio ou mesmo uma condição real de sobrevivência e desenvolvimento.