domingo, 3 de maio de 2009

O camarada checo


Michal, cuja pronuncia é “Mirrel”, tem 24 anos e trouxe consigo a namorada Aneta para uma nova vida em Dublin. Na República Checa, Michal era lenhador e pedreiro. Mas como a vida deste lado do oceano é bem diferente, o camarada fala fluentemente alemão e tem uma noção básica de inglês. Aneta, como havia estudado inglês por seis anos, tem um bom conhecimento da língua. 

Perguntei se não teriam vontade de ingressar em uma universidade, fazer um curso superior, enfim, ter o mesmo desejo de uma boa parcela da população jovem brasileira. E eles me responderam: “Lá é muito difícil, tem poucas instituições. É preciso estudar muito, em colégios bons e caros”. Na hora lembrei de nosso país, que, ao contrário, tem muitas faculdades, mas que, de tantas, talvez nem seja valioso que as frequente.

Sem curso superior, mas não triste ou sequer pensando em sua sorte, veio para a Irlanda e encontrou no cleaner a forma da sobrevivência. Um trabalho simples, como ele mesmo diz, em comparação com as profissões exercidas na República Checa. Na companhia da namorada, divide 2 andares de limpeza de segunda a sexta num escritório do Banco da Irlanda. 

Na primeira saída com o casal, não foi difícil perceber o primeiro vício do rapaz. Pelas longas caminhadas que Dublin nos proporciona, o jovem checo inclina a cabeça em direção ao chão e faz literalmente uma varredura na busca por moedas. Logicamente que o valor delas, na maioria dos casos, não ultrapassa os 2 centavos de euros, mas talvez valha mais como uma diversão; e com boas gargalhadas quando se tem a sorte de encontrar valores mais altos.

Michal relatou as belezas e a história de seu país. Não soube ao certo precisar o período, mas disse que a arquitetura é de impressionar. Segundo o camarada, é possível andar de motos no gelo por 4 euros a hora, barato pelos padrões europeus. Assim como a cerveja em um pub, que diferentemente dos 5 euros cobrados em Dublin, custa apenas 50 cents. Através do relato dele, pude imaginar um pouco como seria o ambiente de descontração checo; diferente da mesa de sinuca encontrada nos nossos brasileiros, o pebolin faz a diversão.

Nas conversas de sábado à tarde, na maioria das vezes em sua casa, retrata uma característica que me faz imaginar ser a do povo checo: receptivo. A comida, servida fartamente, surge a cada pausa na conversa. A base da alimentação é a batata, que pode ser feita como uma espécie de nhoque, ralada e frita, ou assada com ketchup e cebola. 

Em Dublin, Michal teve talvez um dos prazeres que mais encanta grande parte dos seres humanos: estar diante do mar. Na Irlanda, a praia é deserta devido ao frio, mas oferece lindas paisagens quando o chuvoso tempo dá uma pausa. Segundo disse, foi uma experiência indescritível, uma das cena mais lindas das quais esteve diante. Completei, dizendo que depois de conhecer o mar, precisa conhecer a praia, e logicamente sem as três blusas sobrepostas que o frio daqui nos obriga; e comentei de Rio de Janeiro e Salvador. Ele prometeu em quatro anos me visitar, assim que conseguir um pouco mais de dinheiro.

Há poucos dias, Michal deu uma notícia que me deixou feliz. Agora, vai ser pai. Ele, alegre, com ar de despreocupado, espera ansioso a chegada de seu filho para jogar futebol e playstation. A boa notícia trouxe uma não tão boa assim. O camarada retornou para o país de origem. Lá, assim como na maioria (para não me arriscar a dizer em todos os países Europeus), o Estado fornece auxílio financeiro para a família. 

Michal e Aneta, há um ano juntos, vieram para uma nova vida em Dublin. Ganharam um filho e retornam para casa, para os braços dos pais, que agora são avôs. Michal e Aneta: um casal de amigos que mora do outro lado do oceano, num país gelado, com mulheres lindas, como ele mesmo disse. Agora se foram, mas na saudade os amigos permanecem ao nosso lado. No fim da minha estada por aqui, irei visitá-los. Espero conhecer o amado bebê. E, quem sabe, levar um presente bem brasileiro. 

Michal e Aneta, foi um prazer! Um grande abraço e boa sorte na vida!