quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Uma noite revolucionária




Quando se fala em Irlanda, grande parte dos corações revolucionários, lembra-se do IRA (Irish Republican Arm), exército que lutou pela independência do país dominado pelos ingleses. As armas foram entregues em 2005, mas o coração dos jovens ainda é revolucionário.

Desde o primeiro dia de minha chegada na terra da Guiness, vi cartazes com imagens do Che Guevara espalhados pela cidade. Ele convidava a participar de um evento em homenagem aos 50 anos da Revolução Cubana. Me interessei. Saquei o caderninho do bolso, tomei notas do endereço, e me pus, na noite de ontem, dia do evento, a procura-lo.

Depois de muitas perguntas (apesar de mapa que carrego, adoro faze-las, principalmente por ser bem atendido pelos irlandeses), cheguei na rua anotada e me surpreendi com o local indicado. Diferente do Brasil, onde reuniões como esta são feitas em sedes de partidos políticos ou sindicatos, na Irlanda, eles estavam reunidos no Grand Hotel. Localizado em uma das mais nobres ruas da cidade. Realmente, era um dos últimos locais que pensei em encontrar aquela turma.

Em um salão com lustres enormes, cerca de 30 pessoas se reuniram. Dois brasileiros, alguns poucos espanhóis, e a maioria irlandeses, o debate, em prol do socialismo, teve como principal expressão usada "worker class".

Vale a pena ressaltar que neste mesmo dia a capa de todos os jornais anunciavam uma reunião do governo irlandês para debater um corte de 2 Bilhões de Euros no orçamento anual do país. Portanto, uma feição de preocupação permaneceu no rosto da população local durante todo o dia. Conversei com um jornalista do "Irish Times" na porta do prédio onde ocorria a discussão, e ele se mostrava apreensivo. "It`s shit" dizia ele em diversos momentos. 

Pois bem, mesmo com uma questão delicada como esta, os jovens barbudos e socialistas se reuniram poucos minutos depois para discutir um outro tema: Che Guevara e a América Latina. Logicamente que citaram questões de seu país, mas o que mais me chamou a atenção foi justamente a preocupação deles com os países considerados emergentes. 

Brasil, Bolívia, Cuba, Venezuela, entre tantos outros, foram lembrados. De nosso país, revelaram um dado que pra mim foi surpreendente: 7 milhões de pessoas moram ou trabalham nas ruas. 

Ao ouvir isso não pude deixar de lembrar de dois documentários que gravei "O vendedor de balas" e "Eles não vão à Daslu". Lembrei de Lucas, Julho e Eunice. Tentei imaginar como seria diferente se eles fossem europeus. Lucas com certeza teria sua vinicula, Julho poderia levar os filhos no teatro e Eunice comprar a tão desejada boneca da Barbie para sua filha.

A reunião acabou cedo. Vim pra casa dormir e sonhei com alguns dos takes destes vídeos. Hoje entreguei uma cópia para o George, o irlandês que me hospedou em sua casa. Mas essa é uma outra história.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Passaporte, as loiras e o jornalista


Para chegar em Dublin, precisei mostrar o passaporte em pelo menos 3 momentos. Ao sair do Brasil, chegada em Madrid e finalmente na Irlanda. Em cada um desses países fica evidente o tratamento diferenciado de quem é "gringo".

Em Guarulhos, nós brasileiros, podemos nos sentir um pouco mais privilegiados. Praticamente não há revistas às pessoas nascidas em nosso país, a não ser aquelas corriqueiras: esvaziar os bolsos, tirar o cinto, passar a bagagem pelo Raio X...

Nesta mesma fila, logo atrás de mim, estava um senhor de olhos puxados, na casa dos 50 anos. Sotaque bem forte de um legitimo castelhano. Apenas por ter nascido em outro lugar, teve uma revista bem mais fina, sendo obrigado a tirar os sapatos para passar no detector de metais. Nem os seus cabelos brancos pesaram a favor.

Já no imenso aeroporto de Madrid, que abriga túneis, ônibus e esteiras rolantes para o deslocamento de passageiros, existem cerca de cinco cabines para a checagem do passaporte. Três delas exclusivas para cidadãos da União Européia, e duas para o "resto dos países" (expressão usadas por eles). Neste lugar foi a vez dos brasileiros tirarem os sapatos. Todo mundo de "meinha" no chão enquanto, do lado dos europeus se caminhava tranquilamente para o embarque.

A terceira vez que abri a mochila para pegar meu passaporte foi em Dublin. Haviam novamente cinco filas, ma agora, com a especificação "all countries" Também havia uma fila a mais para os não europeus. Pois bem, de nada adiantou, as três ficaram estacionadas. Duas com brasileiras e uma com um argentino. Conversei com a colega de uma das brasileiras que respondia icansavelmente as perguntas dos fiscais, ela me disse "Nós duas estamos em viagem pela Europa já faz algum tempo, fazendo as mesmas coisas, mas sempre é ela a questionada nos lugares. Eu acho que é porque é loira"!

Assustado, a questionei, "Mas como assim, loira?", e ela prosseguiu "brasileira não pode fazer mechas, ou ter cabelos tingidos. Olha a outra que está emperrada, também é loira, e foi assim por toda a Europa".

Não muito convencido, fui para a cabine, sabendo que, pelo menos, as mechas loiras não seriam o meu problema. Queria que o martírio de conversar num lingua não dominada, com o senhor mau-humorado, terminasse logo. Entreguei todos os documento, inclusive a Carteira Internacional de Jornalista, esta, com uma capa vermelha, semelhante aos de passaportes dos figurões internacionais.

Ao vê-la, o senhor de mau-humor arregalou os olhos e se portou diferente. Perguntou se era o tal do passaporte, e eu disse que não, que era a de jornalista. Não me perguntou mais nada. Preencheu a papelada rapidamente, permitindo minha entrada quase que instantânea, mais rápido, inclusive que a dos próprios europeus. Pronto, estava em Dublin!


OBS: Para tirar essa carteira salvadora, basta pagar 4 anos de qualquer faculdade e se graduar jornalista. Pegue o diploma, vá ao sindicato, pague mais 3 parcelas de R$ 17,00 (mensalidade de 3 meses) e R$ 45,00 (taxa de carteira nacional). Espere 20 dias e pague mais E $ 30,00 e saia com sua carteira Internacional de Jornalista. Sem nenhuma burocracia.