segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O primeiro protesto na Irlanda

As placas penduradas em postes de iluminação anunciavam que os estudantes tomariam as ruas num 4 de fevereiro. Há pelo menos uma semana desta data, já era possível saber o motivo da aglutinação: “Free Education”.

Assim como no Brasil, uma educação com um pingo de qualidade tem que ser paga. Não que na Irlanda cheguem boletos mensais com valores exorbitantes. A cobrança é diferente. O valor é revertido nos materiais e provas acadêmicas (FEES): cerca de 5 mil euros anuais.

Motivo que levou centenas de estudantes com os rostos pintados de azul para o centro de Dublin. Concentrados na rua Merrion Square, em frente ao parque que leva o mesmo nome, exibiam placas como “Free Education for Everyone”, ou “No to FEES”. Portando apitos, megafones e muito fôlego na garganta, não pararam um minuto de gritar. 

O que me chamou a atenção, foi um clima de cobrança ao presidente eleito no Estados Unidos, Barack Obama. Para os irlandeses, ele deve tomar alguma atitude urgente para controlar e acabar com a crise econômica mundial. Na Irlanda, o colapso financeiro está levando muitos brasileiros a pegarem o avião de volta, e alguns irlandeses, ao desemprego.

Foram duas as maiores diferenças de um protesto em Dublin, com algum outro realizado no Brasil. Não vi sequer um caminhão de som pela rua, mas sim alto-falantes pendurados em postes propagando os gritos de ordem ditos pelas lideranças estudantis. Segundo um dos organizadores Steven, não há problemas na instalação destes alto-faltantes, cujo abastecimento elétrico é realizado pela iluminação pública. 

O mesmo sujeito, informou que no protesto existiam cerca de 500 pessoas. Achei um valor muito baixo, quando comparei com as estatísticas apresentadas geralmente pelos manifestantes brasileiros. Utilizando “nosso padrão”, calculei que ali haviam cerca de 2000 estudantes. 

O mais surpreendente de tudo isso, e que se encaixa na outra diferença anunciada dois parágrafos acima, foi o valor divulgado pela imprensa. O diário Metro, de distribuição gratuita e diária, informou que 15.000 pessoas tomaram as ruas!

Como jornalista não aprovo a postura de supervalorizar qualquer tipo de informação. Acredito que devamos apenas retratar a verdade, mas confesso, que quando a li, estampada na primeira página, abri um sorriso irônico, e pensei “bom seria, se no Brasil fosse assim, e tivéssemos uma imprensa a favor das causas do povo”. 

Perdi a conta de quantos protestos registrei, e no dia seguinte os jornais publicavam um número completamente inferior, com o intuito apenas de desmobilizar e enfraquecer os manifestantes, que apenas lutavam pelos seus direitos.
Pelo que pude perceber, com ou sem apoio da imprensa, esses estudantes voltarão as ruas, caso as reinvidicações não sejam atendidas.

PS: Peço desculpas aos leitores pela ausência de novas informações. A internet ainda é um problema aqui. Devo, daqui umas 2 semanas, estabelecer uma conexão onde resido, enquanto isso, segue na ausência de periodicidade.

2 comentários:

  1. bacana, loko, mas senti falta de pegar alguma declaração dos estudantes sobre como é o ensino deles, o que é bom e ruim.
    legal seria linkar a cobertura da imprensa daí sobre esse assunto. tipo o que deu no irish times ou nesse jornal do metrô, que deve ter site. abraço, zé prof

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  2. Camarada Ze
    Conversei com o Steven, como apresenta o texto. Acho válido o comentário, da mesma forma que acho complicado divulgar alguma informação que eu desconheça, baseando-me apenas em declarações estudantis, normalmente panfletária (já fiz muito isso, mas hoje estou do lado do jornalismo).

    A cultura aqui é extremamente oposta a nossa, e isso vc poderá acompanhar mais para frente em outras crônicas que escreverei.
    Pra vc ter uma ideia, os mendigos aqui ganham um auxilio financeiro superior ao salário dos latinos. É uma realidade oposta, na qual ainda tento entender. Apesar de estar na Europa, até onde obtive informações, sem uma pesquisa mais detalhada, o pessoal aqui não gosta muito de estudar, e a maior parte da população não tem ensino superior. Como fazer uma avaliação então sobre a educação, se sequer tenho detalhes de como ela é feita? É prematuro, e pode ser um tiro no pé. Preferi passar minhas impressões de um protesto, no qual tive a oportunidade de participar em alguns no Brasil, e ver escrever sobre as diferenças.
    Quanto a apuração pelo Irish Times fica um pouco dificil faze-la. O jornal custa uns 2 euros. Infelizmente isso paga 6 pacotes de macarrão. Para ler de graça, preciso caminhar cerca de 30 minutos apenas para ir. Poderia ler pela internet, mas, como disse nas observações anteriores, está dificil acessa-la.
    É isso ai Zé.. se no Brasil somos considerados classe média, aqui somos a classe pobre da sociedade, mas nada que nos impeça de viver e refletir a cada dia mais, do porque temos uma país tão rico e tão pobre ao mesmo tempo.
    Um abraço

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