A expressão acima trata-se de uma palavra ainda não trazida para as páginas de dicionários, embora seu significado esteja incorporado ao cotidiano daqui. Talvez até exista no inglês-irlandês, mesmo que eles não gostem que nós, estrangeiros, a pronunciemos. Um professor arriscou-se a uma tradução livre que dava aos knackers o significado de trombadinha, mas acredito ter sido infeliz na tentativa.
Há alguns meses, já venho pensando em escrever sobre essas pessoas aqui assim denominadas. Para mim, é estranho elas existirem num país que detém a terceira posição no Índice de Desenvolvimento Humano e, portanto, um território com muito dinheiro, oportunidades e amparo do Estado.
Os knackers, considerados os pobres daqui, usam roupa nova e exibem marcas como Nike e Adidas. Por opção, escolhem não trabalhar, já que o Estado os financia com uma média de 1.000 euros ao mês. É um valor superior à média salarial dos latinoamericanos. Mesmo com essa grana, eles perambulam pelas ruas de Dublin suplicando por alguma esmola.
Não é difícil encontrá-los deitados ao chão, em plena luz do dia, com alguma seringa espetada no braço para o consumo de heroína. Também não é difícil vê-los, nestes momentos de alucinações, não conseguirem ao menos se segurar com relação às necessidades fisiológicas. É uma cena chocante, que de certa forma entristece e nos faz pensar em como conseguiram descer a um patamar tão degradante.
A questão das drogas e da mendicância é um problema existente em todos os países, mas aqui é diferente. Diferente porque, quem se recusa a dar algumas moedas está simplesmente sujeito a levar uma surra em plena luz do dia. O endiabrado pode chamar alguns amigos e, de repente, cinco, dez, quinze ou vinte aparecem para ajudá-lo a espancar você. Esta violência gratuita não ocorre apenas em função da recusa de algumas moedas, ela pode ser mais barata ainda. Eles podem simplesmente não ter ido com a sua cara.
No último mês, fiquei sabendo de pelo menos três casos de agressões desta natureza. Em uma delas, um polonês morreu com uma facada na altura do rosto depois de ter sido violentado por vinte deles. Em outro, uma irlandesa ficou completamente desfigurada. E no terceiro, um espanhol caminhando na rua recebeu uma latada no rosto e, ao devolvê-la em direção aos arremessadores, foi jogado ao chão e chutado por cinco membros da tribo.
Com mais propriedade, por ter acompanhado de perto, posso relatar um outro episódio de agressão ocorrido com um casal de amigos brasileiros. Em sua primeira semana em Dublin, dentro da estação de trem, recusaram-se a dar esmola a um adolescente. Em pouco menos de um minuto, estavam cercados por mais cinco. A garota recebeu um tapa na cara e colega foi jogado no chão, onde recebeu chutes nas costas, barriga e rosto. Não revidou, com medo de que as leis daqui protegessem mais os knackers irlandeses do que o estudante brasileiro. Dos cinco, quatro conseguiram fugir, um acabou preso.
Antes de entrar na viatura, o agressor deu uma cusparada na cara do policial, que apenas se limpou, já que aqui a lei é severa com relação ao policial que abusa da autoridade. Encaminhado para a cadeia, o knacker pagou 300 euros de fiança e foi liberado. No dia seguinte, meu amigo, ao utilizar a mesma estação, deparou com 20 deles à sua espera. Conseguiu fugir e ficou morando por um tempo em minha antiga casa.
Sempre que recebo essas notícias de violência gratuita não deixo de lembrar dos nossos meninos em estado de abandono nas ruas do centro de São Paulo. Mais injustiçados pelo sistema, não agem com a mesma violência e atrocidade. Pedem esmolas e praticam furtos, mas estão longe de receber 1000 euros por mês para pagar suas contas. Ao contrário, as lembranças mais vivas de violência banal que tenho do Brasil foram cometidas pela classe média ou por policiais. Numa delas, um índio foi queimado na capital do Brasil, e, em outro escândalo, crianças foram covardemente mortas por policiais no Rio de Janeiro, episódio conhecido como chacina da Candelária.
Também me vem à mente o último relatório da FAO, Organização da ONU para Agricultura e Alimentação, que registrou, desde o último mês de janeiro, mais de 3,7 milhões de somalianos necessitados de ajuda humanitária, quase o mesmo número de habitantes que a Irlanda possui. A Somália ainda registra o índice de, a cada cinco crianças, uma sofrer de desnutrição aguda.
Fica difícil compreender porque o rico Estado irlandês ainda auxilia financeiramente essas pessoas e, por conseqüência, a prática destes crimes. Fazer vista grossa para uma situação que se agrava a cada dia tornará este problema cada vez mais grave. Com os 1000 euros, ficaria muito mais fácil investir no tratamento contra drogas, caso este seja o real problema, ou na re-socialização destas pessoas. Fornecer dinheiro e fingir que nada existe só trará medo e receio para os habitantes, principalmente os estrangeiros, alvos preferidos pelos knackers!
Há alguns meses, já venho pensando em escrever sobre essas pessoas aqui assim denominadas. Para mim, é estranho elas existirem num país que detém a terceira posição no Índice de Desenvolvimento Humano e, portanto, um território com muito dinheiro, oportunidades e amparo do Estado.
Os knackers, considerados os pobres daqui, usam roupa nova e exibem marcas como Nike e Adidas. Por opção, escolhem não trabalhar, já que o Estado os financia com uma média de 1.000 euros ao mês. É um valor superior à média salarial dos latinoamericanos. Mesmo com essa grana, eles perambulam pelas ruas de Dublin suplicando por alguma esmola.
Não é difícil encontrá-los deitados ao chão, em plena luz do dia, com alguma seringa espetada no braço para o consumo de heroína. Também não é difícil vê-los, nestes momentos de alucinações, não conseguirem ao menos se segurar com relação às necessidades fisiológicas. É uma cena chocante, que de certa forma entristece e nos faz pensar em como conseguiram descer a um patamar tão degradante.
A questão das drogas e da mendicância é um problema existente em todos os países, mas aqui é diferente. Diferente porque, quem se recusa a dar algumas moedas está simplesmente sujeito a levar uma surra em plena luz do dia. O endiabrado pode chamar alguns amigos e, de repente, cinco, dez, quinze ou vinte aparecem para ajudá-lo a espancar você. Esta violência gratuita não ocorre apenas em função da recusa de algumas moedas, ela pode ser mais barata ainda. Eles podem simplesmente não ter ido com a sua cara.
No último mês, fiquei sabendo de pelo menos três casos de agressões desta natureza. Em uma delas, um polonês morreu com uma facada na altura do rosto depois de ter sido violentado por vinte deles. Em outro, uma irlandesa ficou completamente desfigurada. E no terceiro, um espanhol caminhando na rua recebeu uma latada no rosto e, ao devolvê-la em direção aos arremessadores, foi jogado ao chão e chutado por cinco membros da tribo.
Com mais propriedade, por ter acompanhado de perto, posso relatar um outro episódio de agressão ocorrido com um casal de amigos brasileiros. Em sua primeira semana em Dublin, dentro da estação de trem, recusaram-se a dar esmola a um adolescente. Em pouco menos de um minuto, estavam cercados por mais cinco. A garota recebeu um tapa na cara e colega foi jogado no chão, onde recebeu chutes nas costas, barriga e rosto. Não revidou, com medo de que as leis daqui protegessem mais os knackers irlandeses do que o estudante brasileiro. Dos cinco, quatro conseguiram fugir, um acabou preso.
Antes de entrar na viatura, o agressor deu uma cusparada na cara do policial, que apenas se limpou, já que aqui a lei é severa com relação ao policial que abusa da autoridade. Encaminhado para a cadeia, o knacker pagou 300 euros de fiança e foi liberado. No dia seguinte, meu amigo, ao utilizar a mesma estação, deparou com 20 deles à sua espera. Conseguiu fugir e ficou morando por um tempo em minha antiga casa.
Sempre que recebo essas notícias de violência gratuita não deixo de lembrar dos nossos meninos em estado de abandono nas ruas do centro de São Paulo. Mais injustiçados pelo sistema, não agem com a mesma violência e atrocidade. Pedem esmolas e praticam furtos, mas estão longe de receber 1000 euros por mês para pagar suas contas. Ao contrário, as lembranças mais vivas de violência banal que tenho do Brasil foram cometidas pela classe média ou por policiais. Numa delas, um índio foi queimado na capital do Brasil, e, em outro escândalo, crianças foram covardemente mortas por policiais no Rio de Janeiro, episódio conhecido como chacina da Candelária.
Também me vem à mente o último relatório da FAO, Organização da ONU para Agricultura e Alimentação, que registrou, desde o último mês de janeiro, mais de 3,7 milhões de somalianos necessitados de ajuda humanitária, quase o mesmo número de habitantes que a Irlanda possui. A Somália ainda registra o índice de, a cada cinco crianças, uma sofrer de desnutrição aguda.
Fica difícil compreender porque o rico Estado irlandês ainda auxilia financeiramente essas pessoas e, por conseqüência, a prática destes crimes. Fazer vista grossa para uma situação que se agrava a cada dia tornará este problema cada vez mais grave. Com os 1000 euros, ficaria muito mais fácil investir no tratamento contra drogas, caso este seja o real problema, ou na re-socialização destas pessoas. Fornecer dinheiro e fingir que nada existe só trará medo e receio para os habitantes, principalmente os estrangeiros, alvos preferidos pelos knackers!